sábado, 6 de abril de 2013

A Importância da Psicologia no processo da Cirurgia Bariátrica

Psicologia
Por que preciso passar com um psicólogo antes da cirurgia de obesidade?
A Psicologia tem foco preventivo e educativo, bem como de acompanhamento dos processos individuais, isto é, de como cada um vive sua experiência de emagrecimento, que se dá de forma rápida e muitas vezes surpreendente. Junto com o novo corpo, as relações familiares e sociais se transformam, porque a relação do indivíduo consigo próprio também muda. É difícil imaginar que ao emagrecer algo possa mudar para pior, mas novos fatores de stress surgem. Casos como ciúmes do(da) parceiro, rivalidades no ambiente de trabalho, desejo de liberdade que antes não existia devido à condição de isolamento que a própria obesidade trazia, inveja de amigas(gos) que gostariam de estar na mesma situação de perda de peso, etc. Outro fator é a discordância de tempo entre cirurgia e transformação psíquica: se a cirurgia demora em média de 90 minutos a transformação do estilo de vida de uma pessoa leva anos. Seu jeito de se alimentar, o engajamento em exercícios físicos, adaptação a novas rotinas de sono, novo ritmo alimentar, adaptação ao hábito de ingerir suplementos alimentares. De modo similar aos ex-fumantes que ficam com horror ao cheiro de cigarro, não é raro que indivíduos que foram obesos mórbidos fiquem ansiosos com restaurantes do tipo rodízio, em que todos comem muito e/ou rápido de mais. Psicólogos são profissionais orientadores e facilitadores do processo de transformação, no caso da cirurgia bariátrica.

Para que serve o preparo psicológico para a cirurgia?
O preparo psicológico envolve o levantamento de dados históricos pessoais e dados da história familiar permitindo que a pessoa candidata à cirurgia bariátrica possa perceber o que é pertinente ao fator obesidade eo que está sendo projetado na obesidade e na verdade não lhe pertence. Muitas vezes existem expectativas depositadas no emagrecimento que não vão ser cumpridas com a perda de peso, pois dizem respeito ao tratamento de um quadro depressivo, ansioso, ou mesmo de um processo de imaturidade diante da vida. Frustrações com os resultados cirúrgicos devido às expectativas mal colocadas tendem a colocar na cirurgia culpabilidades que não lhe cabem. Não é raro ouvir um comentário de que alguém deprimiu com a cirurgia bariátrica quando a depressão já estava na entrevista pré-operatória. O paciente deve saber que cirurgia para perda de peso não trata Pânico, Depressão ou Transtorno Bipolar. Esses transtornos devem receber tratamento paralelo à cirurgia.

Preciso fazer acompanhamento psicológico após a cirurgia?
Acompanhamento psicoterapêutico é saudável nos dias estressantes de    hoje. È uma prática de higiene mental. Mas só funciona se há demanda do próprio indivíduo. Não podemos porém dizer que uma cirurgia bariátrica só funcionará se a pessoa se submeter a uma psicoterapia após o procedimento cirúrgico. O ser humano é altamente adaptável e seu psiquismo é munido da capacidade de adaptar-se à sua nova realidade. Mas se o stress for intenso demais para sua estrutura, poderá adoecer. Daí a necessidade de um profissional psicólogo competente na equipe, bem como de um psiquiatra que possa prescrever psicofármacos, se necessário.

Preciso comunicar a minha família sobre a cirurgia?
Este é um fator fundamental, dados os riscos implicados no procedimento e todos os cuidados pós-operatórios nele implicados. Em caso de insistência no sigilo, a cirurgia deve ser contraindicada.

E se eu ficar ansioso antes da cirurgia?
Um certo grau de ansiedade é considerado normal. Muito mais preocupante é o indivíduo que não se conecta com a realidade de sua experiência. Alguns medicamentos porém podem ser usados para diminuir o grau de ansiedade pré-cirúrgica e não prejudicam cicatrização. Tanto anestesistas, cirurgiões como psiquiatras têm conhecimento dessa área.

Quais as complicações psicológicas mais freqüentes depois da cirurgia?
Nos primeiros 15 dias a ansiedade é pertinente, dado ao fato de que o emagrecimento almejado ainda não ocorreu, ocorre a privação alimentar principalmente de açúcares que têm papel fisiológico importante sobre o humor e há certa limitação física. Nos próximos 15 dias, permanece a privação da mastigação, que têm importante função na descarga da agressividade (morder, cravar os dentes é uma descarga motora importante para seres providos de dentes). Dependendo do perfil psíquico de cada um, pode haver incremento do comportamento explosivo e humor irritativo ou do isolamento depressivo. Se houver evolução para um quadro psicopatológico com os critérios avaliativos essenciais, há necessidade de tratamento.

A obesidade é um problema psicológico?
Não. A obesidade é uma doença que vem acompanhada de uma série de complicações da saúde global do indivíduo ou de outras doenças. É comum que o indivíduo apresente pressão arterial alta, dores cervicais, bem como ansiedade, agitação psíquica ou depressão. A compreensão dos estados do humor é de co-morbidade, da mesma forma como se compreende as demais manifestações da saúde do obeso. Deste modo, merecem atenção e tratamento.

Psicologia - O Papel do Psicólogo na Cirugia Bariátrica
Sem sombra de dúvida, qualquer psicólogo que já tenha atuado no campo das cirurgias, e em especial, na cirurgia bariátrica, concordará em aceitar, que nosso paciente não é um “cliente” para psicoterapia, e não vem com demanda para análise, como nossos colegas psicanalistas diriam. De modo inverso, chega como quem vem retirar um mal, ou como quem quer reformar uma roupa que não lhe cai bem. Quer dali sair sem aquele defeito, ou mazela, sem maiores questões ou reflexões sobre causas ou efeitos das reformas realizadas.
Esse modelo tão particular de indivíduo exigiu do psicólogo bariátrico, se é que assim podemos chamar essa nova categoria que vem surgindo, um tipo de trabalho bem específico, que inclui o estudo da fisiologia, da psicopatologia, da genética, dos modelos relacionais de casal e familiares e também do trabalho em equipes multidisciplinares. 
Ao receber o paciente deparamo-nos com indivíduos derrotados por múltiplas tentativas de dietas que faliram, dada à força de sua genética. A obesidade, a compulsão a comer, a depressão, a doença bipolar e toda a fisiologia que subjaz à morbidez de seu estado, bem como aos maus resultados de suas tentativas vãs de solucionar seu problema, tem de ser consideradas e estudadas pelo profissional da Psicologia. 
Esse cabedal teórico acima relacionado dará ao psicólogo  condições de exercer seu primeiro papel fundamental: o acolhimento. Tomando desse primeiro instrumento ele partirá para sua estratégia básica de trabalho que é a anamnese, palavra advinda do grego, que significa recordação. É através da recordação, da repetição da própria história, que nosso paciente perceberá os lapsos e tropeços que realizou, não apenas em suas dietas, mas em sua própria vida. O profissional irá, com esse processo de acolhida, permitir a catarse, pois ali, na sala do psicólogo, não há julgamento moral, censura social ou aconselhamento do tipo fraterno, que implica em expectativas. O que se requer do paciente é um compromisso consigo próprio, com sua saúde, com sua história e com o sucesso de sua própria saúde, bem como com o resultado cirúrgico. 
Esbarramos na questão do tempo, pois nosso paciente vive em estado acelerado, como se não suportasse ser obeso mais nem um dia, mesmo tendo sido “a vida toda” de acordo com seu relato. E também nossos serviços são acelerados, porque vivemos em mundos competitivos e hipertímicos. Aqui o psicólogo se defronta com os diferentes ritmos de práticas de cada profissional, do fisioterapeuta ao nutricionista, do clínico ao anestesista, cada um com seu tempo de atuação.   
Assim, quando se fala em preparar o paciente para a cirurgia bariátrica, pode-se usar a metáfora da gestação e do parto, pois nenhum parto e nenhuma gestação é referência para outro, e não há preparo para parir. A experiência se constitui como única. O que cabe ao profissional da Psicologia é levantar dados durante a anamnese, resgatar um bom histórico familiar genético e emocional, de doenças psiquiátricas e vivências traumáticas; verificar na vida do próprio indivíduo a presença de doenças do campo afetivo, averiguar tendências genéticas para transtornos do humor e trabalhar dentro de uma linha informativa e preventiva. Devemos alertar nosso paciente e a equipe sobre a condição em que se encontra o dono do Sistema Digestório e recordar que há um outro sistema complexo ligado a ele, o tal do Sistema Nervoso. 
Quando possível, trabalhar junto a familiares conscientizando de que a cirurgia bariátrica não irá reprogramar a genética do operado, mas no máximo tentar enganá-la, produzindo um magro artificialmente, e que isso terá um custo. Mais que isso, alertar que a vida não perdoa quem é inadimplente com ela. Falhas nutricionais repercutirão em problemas neurológicos e irão mimetizar quadros psiquiátricos sérios. Um cérebro mal nutrido jamais funcionará bem, e por isso não produzirá um indivíduo feliz.
O Psicólogo tem, portanto, na função bariátrica, um papel recheado de atribuições. Ele informa, ouve, espelha, deixa acontecer, acolhe, comemora e acima de tudo sofre com seu paciente, para que ele encontre sua própria saúde.


Psicologia - Paradoxos Alimentares da Obesidade
Quem já não se sentiu frustrado diante do espelho! Normalmente, quando o verão se aproxima, observamos nossos pontos fracos com espírito especialmente crítico. Concluímos que a única solução é emagrecer. Os doces são banidos e os manuais de dieta passam a orientar nossa lista de compras. Convém, saber, entretanto, que o emagrecimento eficaz é estatisticamente raro, porque a psicologia do comportamento alimentar é cheia de surpresas.
Pesquisas recentes demonstram que, ao tentarmos controlar nossos hábitos alimentares mediante técnicas e dietas equivocadas, só conseguimos engordar mais. Nos países industrializados, emagrecer tornou-se um esporte nacional. As revistas oferecem todos os dias, novas e milagrosas dietas. Paradoxalmente, o excesso de peso e obesidade aumentam. Nos Estados Unidos, a proporção de obesos passou de 14,5% em 1980 para 22,5% em 1991. A proporção dos que "só” tinham excesso de peso chegou a quase 50% da população. No Brasil, de 1974 a 1997 o número de adolescentes obesos assou de 37% para 12,6%, Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, 6,7 milhões de crianças e adolescentes são obesos no país. 
Mas o que significam noções como “excesso de peso” e “obesidade”? No ser humano, os valores normais de peso mantêm estreita relação com a altura. Esta relação é estabelecida pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que divide o peso em quilogramas pelo quadrado da estatura em metros. os valores do peso considerados ideais correspondem ao IMC associado a uma menor taxa de mortalidade. Segundo os critérios propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o peso normal situa-se entre 18,5 e 25 kg/m2. Os valores situados entre 25 e 30 kg/m2 indicam excesso de peso, os superiores a 30 kg/m2 mostram obesidade. 
O excesso de peso ou a obesidade não são saudáveis e reduzem as expectativas de vida. As doenças cardiovasculares, o diabete e o derrame atingem de forma mais acentuada este grupo. Por outro lado, um peso abaixo do ideal está associado a uma mortalidade mais elevada que a média. Além disso, em idosos, o IMC correspondente à mortalidade mínima comporta valores superiores em duas ou três unidades. 
Não está claro se o risco adicional atribuído à obesidade tem relação direta com o peso elevado e não com outros fatores relacionados! Os obesos se movem, em média, menos que pessoas com peso normal e sabemos que longas caminhadas cotidianas aumentam a expectativa de vida. Presume-se ainda que o padrão de dietas reiteradas, curtas e drásticas, habitual entre obesos, contribua para a mortalidade elevada; o mesmo pode ser afirmado da instabilidade de peso associada ao uso de medicamentos. 
Além das conseqüências para a saúde, a obesidade tem efeitos sociais, sobretudo para mulheres. Estudos realizados nos Estados Unidos mostram que mulheres com excesso de peso têm mais dificuldade para casar-se. Homens e mulheres com um IMC elevado sofrem mais para encontrar emprego e, quando o fazem, ganham menos que colegas de peso normal.
Dadas as conseqüências negativas do excesso de peso e da obesidade, é compreensível a generalização do desejo de emagrecer. Uma pesquisa realizada em 1991 nos Estados Unidos revelou que 33% das mulheres e 20% dos homens estavam naquele momento tentando emagrecer. As reduções esperadas eram, em média, de 10 kg nas pessoas com um leve excesso de peso e de 30 kg nas obesas, mas os resultados efetivamente obtidos eram, respectivamente, de 5,6 e 8,2 kg,bem inferiores às expectativas. As tentativas de dieta duram, em média, de cinco a seis meses. Com a ajuda de um profissional, no âmbito de uma terapia comportamental, por exemplo, o êxito aumenta um pouco. Pesquisa realizada entre 1985 e 1990 mostrou que os participantes de um programa deste tipo emagreceram em média 8,5 kg em um prazo médio de cinco meses. É preciso considerar que são supostamente os casos mais desesperados que recorrem a programas dietéticos supervisionados por um profissional. 
Embora uma dieta para emagrecer possa atingir seu objetivo, a perda de peso obtida raramente é suficiente para os obesos chegarem a um peso normal. Além disso, é raro conseguir manter a perda de peso deforma duradoura. Participantes de programas controlados por profissionais ganharam, em média, mais de 3 kg um ano após o término da terapia. 
Quando consideramos períodos mais longos, os resultados das dietas são ainda piores. Os participantes de um determinado programa terapêutico que no início haviam perdido entre 8% e 12% de peso estavam, quatro anos depois, somente 4% abaixo do peso original. Naturalmente, há casos em que as pessoas atingem o peso normal e conseguem mantê-lo, mas são raros. Avalia-se que entre 90% e 95% dos participantes de programas de dieta retomam, depois de cinco anos, ao peso original, para logo aumentá-lo. Esta dura realidade foi admitida até mesmo pelos defensores das dietas. 
As opiniões relativas às dietas mudaram também em outros aspectos. Atualmente, os nutricionistas não só admitem a ineficácia habitual das dietas, mas começam a considerar seus riscos e efeitos colaterais, como a  obsessão pelo peso e pela imagem ideal, um dos principais fatores de risco para o surgimento de transtornos de comportamento alimentar entre os adolescentes. 
Fonte: SBCBM - Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica